E viu Deus que na sua amorosa
exatidão o melhor a fazer era repartir-se, deixar-se derramar, transbordar,
jorrar para o espaço e o tempo esse amor infinito que sempre habitou a
eternidade, como vestes que sempre lhe couberam perfeitamente bem; criou.
Como um exímio artista, moldou com
as próprias mãos seus arquétipos. Cantava e dançava alegremente uma canção de
cirando enquanto pintava, torneava e delineava suas artes, e lhes davam vida
com um sopro suave, sem interromper a música. Nietzsche foi feliz quando disse:
"Eu só poderia crer num Deus que
soubesse dançar".
A melodia da canção que entoava
lhe interpelou profundamente com uma realidade, “meu amor precisa ser celebrado
para além de mim, quero contemplar seu efeito, sua cor e intensidade ‘fora’ de minhas
entranhas”. Foi então que seu
inconsciente sussurrou: “isso não vai dá certo, eles hão de querer ser deuses”,
ao que ele retrucou: “mas é o que eles serão; os farei a minha ‘cara’, imagem e
semelhança (amor)”.
Ser humano é o jeito mais abrangente
de gozar sua divindade intrínseca.
Fez gente, “homem”, livre consciência,
paralela a Si. Pegou-lhe pela mão convidando-o para a ciranda; este até que
dançou por algum tempo, e gostou, mas ao ver a possibilidade de imprimir outros
ritmos e até de poder largar-lhe as mãos e criar suas próprias coreografias,
não pensou duas vezes, abriu as mãos, abriu mão, e se foi.
Mergulhou na existência, resolveu
perscrutar, conhecer, criar seus próprios caminhos, dançar suas músicas, pintar
seus próprios quadros, fazer arte, fazer deuses, “fazer vida”. E nesse grito,
pulo, mergulho da humanidade na sua auto-independência, Deus conheceu suas costas,
seu avesso.
Mas não foi surpreendido, o perfeito
amor nunca é pego de surpresa, visto que está preparado para absolutamente
tudo. É só por isso que nos foi dada a dádiva de existir, pois para todo sempre
nosso destino seria o amor.
Ainda que os desdobramentos da
aventura humana tenham gerado caos, dores, lágrimas, tristezas e
descontentamentos, é certo que uma nuvem de amor nos cobre e nos envolve, sempre.
Os mais bem-aventurados são os
que conseguem fazer uso do potencial divino gravado em seu DNA, se
aventurando na auto-descoberta, entregas, prazeres e partilhas, caminhando
sempre adiante, sem deixar de regressar quando necessário for.
O caminho para Deus é o mesmo que
nos leva ao outro, nos entrega à vida e devolve-nos a nós mesmos.
Viva, caminhe.
Léo Dias.
Lindíssimos seus textos...amei seu blog! abraços...
ResponderExcluirMuitíssimo obrigado.. passiei pelo seu espaço e amei tbm. Invejo quem diz tanto com tão poucas palavras. Parabéns!
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