terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Pitangas de 2010

Sempre costumo comparar momentos da minha vida com o prazer ou des-prazer da degustação de pratos diversos da nossa rica culinária e de frutas deliciosamente suculentas. Lembro-me de ocasiões inesquecíveis que eu saboreei nessas minhas andanças como quem descasca uma manga com os dentes, lambuzando as bochechas e lambendo os dedos sem vergonha de ser feliz. (risos)... Porém de todos os gostos de frutas saborosas, há um que não só representa momentos marcantes como traz em si lições de vida pra mim. Estou falando da pitanga.

Cresci chupando pitangas que roubava no quintal dos vizinhos da minha mãe. Logo cedo descobri que existe uma arte para chupar pitangas, é necessário ter bons olhos e um aguçado olfato para aproveitar ao máximo do delicioso sabor dessa frutinha que mistura magicamente doçura e cítricidade na medida perfeita. Chamo de arte da degustação porque a depender da cor e do cheiro as pitangas variam de sabor, é por essas duas característica que você descobrirá qual a pitanga mais doce de todas; e aqui vai a dica: selecione-as em ordem para que você possa chupar primeiro as mais azedinhas e fechar com a mais deliciosa em sintonia de sabor. Ou você faz isso, ou do contrário terá o desprazer de carregar um gosto amargamente azedo na boca por longos minutos. Lembre-se: Nunca chupe a pitanga mais doce primeiro, isso ta fora de questão.

Finda-se mais um ano, ano este em que experimentamos momentos cítricos, amargos, azedos e doces. Compartilhamos do nosso tempo com pessoas inesquecíveis e pessoas que preferimos nem lembrar, angustiamo-nos com situações fora de controle onde nos percebemos totalmente frágeis e incapazes de qualquer reação; alguns experimentaram dores indizíveis e decepções arrasadoras. Meu convite é para colhermos as pitangas mais vermelhinhas, carnudas e cheirosas nestes últimos dias do ano, estou falando da nossa capacidade de emprestar sentido as coisas, os momentos, as pessoas. Estou falando de ressignificação, de aprendizado, da possibilidade de olhar o mesmo fato de ângulos diferentes e perceber que o que você havia visto e sentido não eram os únicos caminhos de sensações e de pontos de vista.

Nós seres humanos temos essa divina capacidade de enxergarmos além, de compreendermos, de nos refazermos, de resistirmos, suportarmos, levantar a cabeça e seguir adiante, então sigamos... continuemos a caminhada sabendo que apesar de não termos as prerrogativas da existência em nossas mãos temos um coração cheio de fé, mesmo que pequena, porém posta no Abba que nos ama incondicionalmente e nos dá a capacidade de aprendermos com nossos erros, de dar a volta por cima quantas vezes for necessário levantando e sacudindo a poeira. 

 Saber chupar as pitangas certas é saber que às vezes você não pode escolher o que ouve, mas pode escolher o que crer, nem sempre pode escolher os fatos, mas pode escolher as lições, que não dá para apagar a cicatriz, entretanto é possível não sentir mais dor; é ser capaz de enxergar beleza e arte nas imagens em preto e branco. É ter fé no futuro que se consuma no próximo segundo que já está sendo escrito, vivido e pode ser celebrado já.

Nesse caso, desejo a todos um maravilhoso 2010, na esperança de que você olhe pra traz e colha uma deliciosa pitanga do seu jardim, enchendo o coração de graça e alegria pela sua trajetória; pelas cores, amores e dores, faz parte! (risos)... 2011 ta logo ali nos aguardando, ótimas pitangas pra você!!! 

Aos meus amigos pitangas, 

um grande beijo, 

obrigado por este ano!

Léo. 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O Sol, o Mar e Eu

Acabei de chegar do meu momento de natação, prefiro chamar de ocasião em que faço amor com o mar, é isso mesmo; afinal de contas não há outra definição para descrever um momento de intenso prazer dos pés a cabeça, acompanhado por um cansaço relaxante.


Por tudo isso amo nadar, porém hoje foi ainda mais especial, pois enquanto eu coabitava com o mar notei que o sol estava enciumado com a minha presença e deleite. Ele nem conseguiu disfarçar, trazia em seu semblante o descontentamento. Hoje ele se poria bem sem graça devido à cortina de nuvem que o escondia, contudo quando me avistou derramado sobre o mar, puxando-o para meu corpo, sentindo-o deslizar sobre minha pele, logo o gigante solar tentou deitar-se mais rápido e estendeu seus raios para abraçá-lo, entretanto mais uma vez não conseguiu SENTIR.


Para o Sol o único meio de prazer é o calor, ele não faz idéia da sensação de um arrepio gostoso, muito menos do que é ter o corpo todo envolvido por uma atmosfera suavemente geladinha. Uhm que delícia! 


Como todo bom momento de amor precisa de uma pausa para a contemplação, parei no meu ponto favorito para sentar e rir da fisionomia caída do sol; é uma ponte de madeira que fica num dos lugares mais lindos aqui do meu paraíso, eu chamo esse lugar de meu santuário natural. 


Enquanto o sol olhava pra mim com aquele sorriso amarelo, eu o pirraçava alisando o mar com os pés e sorria de cantinho, olhando pra ele disfarçadamente. Mas o que deixou o sol furibundo da vida mesmo, foi quando um casal que estava num veleiro ancorado no meio do mar, balançando no gingado das ondas, pulou de mãos dadas e se banharam em amor tropical, foi ai que ele tentou se esconder mais rápido para não olhar pra mim e ver minha cara de sarcasmos, mas antes que o fizesse eu me levantei na ponte, dei um psiu pra ele e disse: Ei, você viu? Prazer não se faz só com calor, mergulhar também é SENTIR!

Sorri e mergulhei, ainda tinha energia para mais meia hora de amor com o mar... (risos). 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Natal: A re-pintura do rosto de Deus

Corram, anunciem para os oito cantos do mundo, O menino nasceu, e pasmem: ele não se parece nem um pouco com o Pai, tem outras cores e odores, seus traços são leves, o contorno do seu rosto tem curvas bem definidas que trazem a tona uma assustadora realidade; quem é o pai dessa criança? Pois ao compararmos o seu semblante com aquele quadro caricaturado na parede daquele que dizem ser o pai dele não vemos se quer pequenas semelhanças. E agora como saberemos quem é o pai dele? Bem que ele parece com aquele moço que está se recuperando do assalto que sofreu uns dias atrás e que foi socorrido por um tal samaritano. Engraçado isso... Ele tem traços de tanta gente! Já reparou como ele lembra bastante aquele cego esmole a beira do caminho? Vixe! Quantos traços marcantes que lembram tanta gente, ta difícil de saber quem é o pai do garoto, vê se ele não lembra o Déi, o Marquinhos, o Messias, o Jefinho, Cássio! Até com o Léo ele se parece. Bom, vamos aproveitar que 05 anos se passaram e deixar que ele mesmo nos diga. Já sei, tive uma grande idéia, vamos dá uma tela, tintas e um pincel a ele, e pedir que desenhe o rosto de seu pai. - Meia hora depois o menino sorrindo mostra sua mais recente obra de arte, e o rosto no quadro era a cara do menino e a cara do menino é a minha, a sua, a do marginalizado, do excluído, do discriminado, a do miserável, a nossa. O menino Emanuel re-pintou o rosto de Deus e nos mostrou que ele pode ser encontrado todos os dias em lugares inimagináveis; esse é o natal de todos os dias, que seja o nosso natal.

Um caloroso abraço natalício a todos!!!                                                                                                 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Alma Nua

Ó Pai não deixes que façam de mim o que da pedra tu fizestes e que a fria luz da razão não cale o azul da aura que me vestes. Dá-me leveza nas mãos, faze de mim um nobre domador laçando acordes e versos dispersos no tempo pro templo do amor. Que se eu tiver que ficar nu hei de envolver-me em pura poesia e dela farei minha casa, minha asa, loucura de cada dia. Dá-me o silêncio da noite pra ouvir o sapo namorar a lua, dá-me direito ao açoite ao ócio, ao cio à vadiagem pela rua. Deixa-me perder a hora pra ter tempo de encontrar a rima ver o mundo de dentro pra fora e a beleza que aflora de baixo pra cima. Ó meu Pai, dá-me o direito de dizer coisas sem sentido, de não ter que ser perfeito pretérito, sujeito, artigo definido; de me apaixonar todo dia, de ser mais jovem que meu filho e ir aprendendo com ele a magia de nunca perder o brilho; virar os dados do destino de me contradizer, de não ter meta, me reinventar, ser meu próprio Deus. Viver menino, morrer poeta. (Alma Nua – Vander Lee)

Quero o direito de metamorfosear-me com leveza, quem tem o projeto final de quem devo me tornar? Não quero perder preciosos momentos da minha vida me preocupando com as expectativas que existem nos outros a meu respeito. Me disseram que eu tenho que desempenhar bem diversos papeis na sociedade; como assim? Não me recordo de ninguém pedir minha opinião enquanto os escreviam para mim. Quem me quizer terá que receber o pacote completo com suas delícias e amarguras. Quero crescer, evoluir, aprender, amadurecer, descobrir e acima de tudo desaprender, mas quero que tudo isso transcorra com a liberdade de um riacho que desce desembestado ao encontro do mar. Se para estar comigo você tem que me mudar à seu molde, desisto não vai dá assim, eu não me encaixo na sua moldura por mais bela que ela pareça para você. Já tentei fazer de mim um pedacinho do anseio de todo mundo que de mim espera algo, quase elouqueci. Quem quizer caminhar comigo vou logo avisando, não espere e eu não lhe decepcionarei, saiba que quero que quando a idade mais avançada chegar eu tenha muito pouco a dizer sobre coisas que gostaria de ter feito e não fiz, prepare-se para “surpresas”. Pra você pode ser mais fácil dizer onde está a verdade, pra mim é mais fácil identificar onde ela não está e tenho certeza que não está em você. Não me negue o direito de errar por achar que você sabe o melhor caminho, pois novos caminhos se fazem onde nunca houve antes e para fazê-los as vezes é necessário lagrimas, sangue, arranhões, cicatrizes e grandes e intransferíveis experiências. Repito o que já disse: Deixe-me arriscar, errar, sofrer, crescer e SER mais... Deixe-me pular e não coloquem nenhuma cama elástica abaixo de mim; preciso sangrar pra sentir que vivi... Por favor deixe-me.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Emoções



Hoje resolvi ver o espetáculo do pôr do sol de um lugar diferente, sentei-me na borda macia da nuvem mais próxima àquele fenômeno alucinante.

Enquanto degustava os últimos raios tímidos daquele gigante pulcro, que se escondera para escolher a roupa que usaria no dia seguinte, fui surpreendido por um forte assobio que assustou-me agradavelmente. Era a esperança estendendo as mãos e me convidando para brincar de saltar nas estrelas fazendo-as de escadas e caminhos para chegarmos à festa que eu havia sido convidado; foi o que me sussurrou bem baixinho minha anfitriã, a alegria.

Logo que eu pisei naquele ambiente iluminado percebi que haviam sido reservadas duas cadeiras, uma pra mim e outra para felicidade. Ficamos ali sentados por alguns minutos nos olhando sem dizer uma palavra, enquanto meu rosto resplandecia com uma luminosidade que vinha do chão; foi quando percebi uma pequena cortina se abrindo, e aparece a paixão e o desejo com sorrisos de um canto a outro da face, uma com a sanfona nas mãos e o outro com a zabumba; eles começaram a tocar um forró com sabor de rapadura e eu não me contive peguei a felicidade pelos braços e num salto arrochei ela pra bem perto do meu peito. Notei certo embaraço da parte dela no início, que foi se esvaindo enquanto éramos aquecidos com um licor possante que a alegria trouxe pra nós. 

A tristeza me pediu pra dançar, mas a felicidade segurou bem forte minhas mãos e girou-me extravagantemente ignorando aquele pedido. A música não parecia ter fim. De repente ouvi no sistema de som que especialmente naquela noite o dono do bar daria uma canja para homenagear um casal especial que ele ficara observando por longas horas, se referia a mim e a felicidade. Fiquei curioso para conhecê-lo, mas logo essa euforia converteu-se em decepção, era um velhinho, acabadinho tadinho, e eu não botei fé na sua capacidade, logo pensei: uhm... a noite tava tão boa, agora esse coroa aí só porque é dono do bar vem bagunçar a festa, foi quando ele começou a cantar Emoções do Roberto Carlos, fiquei paralisado pois eu conhe
cia aquela linda voz, era o amor, cantando pra mim; a felicidade se emocionou e não conseguimos mais dançar. Ficamos ali parados assistindo aquele momento lindo.

A parte mais emocionante foi quando a melodia silenciou-se e o amor olhando pra nós disse: Se chorei ou se sorrir, o importante é que emoções eu vivi... 
Ao findar da música o dia vinha amanhecendo e ele veio pessoalmente nos trazer até a porta, perguntei: qual o nome do seu bar? Ele me mostrou uma placa enorme que eu não havia notado, lá estava escrito VIDA. Antes de me despedir quis saber os horários de funcionamento, pois queria voltar o mais breve possível, ele me deu um cartãozinho azul que bem no rodapé em letras miúdas informava a disponibilidade do bar. La estava escrito: Eternidade.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Qual a terminologia pra isso?












A vida com suas multicores nos proporcionam experiências extraordinárias que de tão intrigantes nos faltam palavras para defini-las, por exemplo: sabe aquele sentimento de saudade de alguém que de tão intenso lhe permite sentir o cheiro do perfume dessa pessoa? E quando você está pensando em alguém e tem a plena certeza que naquele exato momento está sendo correspondido telepaticamente. Ah! E aquela música que foi trilha de um momento inesquecível e que começa a tocar em algum lugar logo após você ter assobiado a mesma despretensiosamente... Já aconteceu com você de estar digitando o número dele(a) que você gostaria de estar perto e essa pessoa te liga antes que você acione a tecla de chamada? Comigo já, na verdade tive a grata surpresa de saber que um torpedo meu se cruzou com o de outra pessoa que eu acabara de pensar. Creio que nem a mais avançada tecnologia esperava tão perfeita sintonia de saudade e carinho. Fiquei a pensar sobre as coisas sobrenaturais que acontecem a partir dessa liberação de fluidos positivos como se fossem elétrons de ternura somatizados pela simultaneidade da ação espontânea em resposta a nostalgia estridente.  É fascinante descobrir como a força da afabilidade de duas ou mais pessoas quando acessada sincronicamente tem a capacidade de suplantar as barreiras de tempo, espaço e qualquer que sejam as diferenças.  Penso que é esse arrebatamento a distancia que nutre grandes amizades que sofrem com o sufocamento da falta de tempo e da “ausência,” que deixa de ser ausência através da meiga presença das boas lembranças e do acolhimento integral do ser do outro, desde suas mais complexas discrepâncias às mais fúteis manifestações infantis de um ingênuo aprendiz. Diante de tanta magnitude é impossível não perceber o quão divino é esse tirocínio e bem-aventurados os que se permitem e se entregam a tal... Tal o que mesmo? Bom é exatamente essa a minha angustia. Que terminologia usar para algo tão sublime? Afinal de contas, qual seria o resultado da equação de uma experiência que soma (+) desejos, divide (÷) momentos, subtrai (-) saudades e multiplica (x) afeto?
Não sei. Você sabe? Quem souber, por favor, me ajude, pois estou atrás dessa palavra que sei como acontece mais não sei como se diz.

Aguardo as sugestões nos comentários...

Bjos!



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Louvor do Solista

Há poucos dias atrás vivi duas experiências extremamente antagônicas acerca da oportunidade de interagir com Deus através do louvor. Sei que a palavra louvor tem uma dimensão muito maior do que a igreja a reduziu. Quando falamos de louvar a primeira coisa que vem a nossa mente é estar entre quatro paredes numa noite de domingo cantando pra Deus, o que eu acredito estar incluso nessa experiência, mas não ser o único meio de fazê-lo. Penso que louvar é acessar a Deus na multiformidade de suas expressões na vida; onde o “vejo”, o sinto e o percebo esta é minha experiência de louvor. 

Já há algum tempo ando decepcionado com a liturgia de nossas igrejas evangélicas, participei de um culto onde o grupo musical tentava de todas as formas animar e sensibilizar os fiéis presentes, os apelos iam se intensificando diante da frieza da platéia que não reagia ao animador de palco, talvez por lhe faltar carisma. Houve um momento interessante quando o microfone falhou durante uma música inteirinha e os espectadores do culto ficaram olhando pro semblante frustrado do cantor. Pensei em meu coração, meu Deus será isso mesmo prestar um culto a Ti? Saí daquele ambiente com o coração entristecido por perceber que nossos momentos de celebração coletiva se dissolveram em momentos vazios, carregados de sensacionalismo e abuso de manipulação de consciências através de técnicas que alienam psico-emocionalmente o indivíduo roubando-lhe a capacidade de ser autônomo na busca de experimentar Deus em suas diversas possibilidades, suprimindo assim qualquer meio de transcender. Pra não me desesperar de vez Deus me deu a oportunidade de passar bons momentos com um amigo, o que já é uma boa experiência de louvor, mas não ficou por aí, tive a alegria de assistir na casa dele O Solista (filme baseado em fatos reais); que experiência extraordinária! Conta a história de um escrisofenico tocador de violoncelo que vive nas ruas e é conhecido por um jornalista que procurava uma boa história para sua coluna que não ia nada bem. O que me chamou a atenção era como esse rapaz interagia simultaneamente com a música e a vida de forma sagrada. A  primeira vez que ele pegou o violoncelo após anos que não o tocava ele mergulhou na melodia da música a ponto de experimentar o chamado sentimento oceânico, flutuar sem sair do lugar, e o jornalista foi junto com ele ao fechar os olhos e deixar aquela atmosfera divina o envolver.

Quando ele tocava as músicas de artistas conhecidos e renomados ele tinha a capacidade de trazê-los de volta a história e interagir com eles, conseguia vê-los sentados numa simples janela de um velho apartamento.  Assistindo esse filme também fui envolvido de tal maneira que senti a presença de Deus comigo e era como se meu corpo estivesse leve, a experiência que não tive no “culto” naquela igreja, vivi recostado numa poltrona frente uma TV, numa dessas tardes silenciosamente normais; foi então que eu sussurrei: meu Deus eu quero louvá-lo assim, como Nathaniel Anthony Ayers Jr... Livre-me da religiosidade oca, dos mantras triunfalista, da pretensão de poder, da alienação espiritual e principalmente do desperdício de oportunidades de te experimentar na diversidade da vida com suas cores, dores e alegrias. Quero percebê-lo como nunca o percebi, quero vê-lo onde nunca imaginei que pudesse ver, quero senti-lo além do que minha mente limitado já me permitiu sentir.

Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor. Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. (Sl 51;15,16)

Shalon!!!



quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A Vida me Encarou no Olhar de Emanuel


É manhã de segunda feira, mais uma semana começando e a sensação de que a outra que passou escorregou pelos dedos. A cada dia aumenta a impressão de que não estou no mesmo compasso que a vida.

Fomos para a mesa do café e colocamos nosso filhote Emanuel (5 meses) sentado numa dessas cadeirinhas adaptadas para automóveis. Por alguma razão naquela manhã Emanuel acordou com o humor diferente do comum, ele estava sério e compenetrado parecia até um adulto pensando na vida e seus percalços.

Por um momento ficamos só nós dois na cozinha e de repente percebi que ele olhava sério pra mim, costumo interromper esses olhares com brincadeiras infantis falseando a voz pra tentar comunicar-me na sua linguagem, mas dessa vez não sei bem o porque resolvi fitar nele também e devolver a seriedade no olhar, ele não se intimidou, continuou me olhando só que seu olhar foi transformando-se num olhar mais sereno e tranqüilo acompanhado de um quase-rir e eu claro não consegui manter o mesmo, fui me derretendo diante daquele meigo e singelo olhar que me desarmou completamente. Foi quando pensei: enganasse quem pensa que o maior meio de comunicação são as palavras audíveis, há muito mais sons inteligíveis no silêncio de um olhar do que se pode imaginar.

A grande questão é; são raros os momentos que sem medo permitimos que alguém “ouça” e descubra quem somos só pelo ato de um olhar franco e verdadeiro. Penso que este raro fenômeno acontece em duas possibilidades: ou quando duas pessoas estão contaminadas pela febre da paixão que se confunde com amor intenso e eterno, ou quando as pessoas decidem optar por cultivar uma amizade desprovida de polodochias como diz meu amigo Déi.
Ana Carolina recita um poema extremamente interessante a este respeito. Cito abaixo:

“Te olho nos olhos e você reclama que te olho muito profundamente. Desculpa, tudo que vivi foi profundamente. Eu te ensinei quem sou e você foi me tirando os espaços entre os abraços, guarda-me apenas uma fresta. Eu que sempre fui livre, não importava o que os outros dissessem. Até onde posso ir para te resgatar? Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade de me inventar de novo. Desculpa se te olho profundamente, rente à pele, a ponto de ver seus ancestrais nos seus traços. A ponto de ver a estrada muito antes dos seus passos. Eu não vou separar as minhas vitórias dos meus fracassos! Eu não vou renunciar a mim; nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser vibrante, errante, sujo, livre, quente. Eu quero estar vivo e permanecer te olhando profundamente.”

A verdade é que acreditamos estar seguro não mostrando para as pessoas quem genuinamente somos, afinal de contas eu anseio ser amado e quem terá coragem de me amar se eu revelar quem de fato sou. Por isso eu prefiro arrumar uma mascara bem bonita para ir pro baile da vida me apresentar a você na esperança de que você me dê o seu amor que tanto preciso para matar a sede insaciável que não sei decifrar de onde veio. Mas o problema reside exatamente aqui, pois no fundo sei que quando sou amado o amor que está sendo devotado na verdade não é a mim, mas a minha mascara apresentável e assim eu saboto nossa relação, pois você nunca vai poder amar quem de fato sou pois tenho medo de me mostrar e ser abandonado.

Não é de se surpreender que muitos de nós estejamos doentes de alma e amargos da vida. É por isso que não conseguimos olhar por muito tempo nos olhos enquanto falamos ou ouvimos alguém, tememos que nossos olhos contradigam o que fala a nossa boca. Nesse caso ao invés de dizer que a boca fala do que está cheio o coração, seria mais sensato, os olhos falam do que está cheio o coração. Minha mãe costuma dizer que tem coisas que ela fala que nem dá tempo de passar pelo coração. (risos)

Quando lembro do olhar puro de Emanuel pra mim, penso no que disse o carpinteiro de Nazaré: “sejam como criancinhas”. Como criancinhas que nosso olhar, boca e coração falem a mesma coisa para que nossas relações tenham o potencial de ainda curar quem nos tornamos. 

Shalon!

sábado, 16 de outubro de 2010

O que as baleias me ensinaram sobre vocação

Sabe aqueles sonhos de infância? Pois é, recentemente realizei um destes. Fui avistar as baleias Jubarte que nesse período do ano migram aqui pro meu paraíso em busca das águas quentes para fazer amor e darem continuidade à espécie. Morro de São Paulo é afrodisíaco até pros animais. (risos)

Enquanto a lancha se aproximava calmamente daqueles mamíferos gigantescos meu ser era tomado de uma emoção divinamente infantil, meus olhos brilhavam como os de uma criança frente ao brinquedo tão sonhado que acabara de ganhar, mas minha alma adulta  logo interrompeu meu momento de fascínio ingênuo me convidando pra tirar alguma lição daquele momento sublime na companhia daquelas figuras colossalmente desastradas. Foi quando comecei a contemplar o alegre, romântico e leve, levíssimo balé desses seres de toneladas. Perguntei-me, como podem tão grandes e pesadas bailarem e saltarem com tanta graça? Logo a resposta lógica me saltou a mente; elas estão no seu habitat natural, no lugar certo, celebrando a vida. Daí me veio que vocação é exatamente isso: estar no lugar “certo”, celebrando a vida integralmente.

Lembro-me que desde meus primeiros contatos com a fé cristã evangélica ouvi que o vocacionado tem que estar aonde Deus quer, mesmo que seja contrário a sua vontade, perfil e identidade cultural. Nunca concordei que a experiência do profeta Jonas servisse de baldrame para mandar pessoas pra lugares que elas nunca desejaram ir, violentando suas vontades por “amor” ao evangelho.

Penso que de alguma forma, mesmo que o vocacionado aprenda a dar amor a todos quantos passarem pela sua vida, existem pessoas especificas que sua alma escolhe amar e dar a vida com prazer, mesmo que a correnteza da vida o leve por caminhos não elegidos, existem caminhos e lugares que o coração escolhe apreciar como habitat natural e nesses lugares e com essas pessoas até nossas maiores dificuldades e aparentes limitações contribuem para que como as baleias dancemos e celebremos o balé da vida.

Na vocação a maré contrária nos conduz para a evolução e o crescimento como ser-na-existencia, assim como levam as baleias (que se deixam levar) para a próxima parada migratória cumprindo seus ciclos naturais.

Exercitemos nossa vocação seja ela qual for com a leveza das baleias.

Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (MT 11;29,30)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

+ OU - EM QUASE TUDO

Por alguma razão que ainda descobrirei (eu acho), eu sempre fui mais ou menos em quase tudo que fiz. Sério! Lembro-me da minha professora de biologia dizendo pra mim: "Leozinho, você é tão inteligente, pena que não é esforçado, você poderia dar muito mais do que isto"; “isto” leia-se, se referia ao meu boletim com as cores do Baheeeaaa. Bjo pró!
Também me lembro do Otacílio - técnico do time de futebol aqui da ilha, o Tapirandu (que é o nome da nossa fortaleza histórica) - que sempre dizia: "Léo é bom de bola só lhe falta explosão, rs, e usar mais corpo para proteger a bola". Com isso eu amargava o banco de reservas, mas não pensem que isso me irritava, aaah não, eu tava felizão só de estar no time. E assim era em quase tudo, surf, futvolei, natação, dominó, bolinha de gude, etc. 

Vejo que há somente uma área em minha vida onde eu não fui e não sou mais ou menos, é na arte de "se entregar". Engraçado que é exatamente aqui que eu deveria ser mais ponderado, sóbrio, pés na areia. Pois se entregar é muito arriscado, há sempre a possibilidade da decepção, frustração e tristeza, mas não, eu aprendi que a magia de viver depende da arte de se entregar, por isso sempre me entreguei sem reservas aos meus amores, quer seja Àgape, Fileo ou Eros. Os meu amigos de verdade podem testificar sobre isso, pois eles sabem praticamente tudo a meu respeito, desde os “pecados”, as duvidas e inquietações vocacionais. Meus amores?! Aaaah, pra estes eu mostrei meu avesso, sempre fui muito bobo com relação a eles. Era muito comum após uma noite de amor eu trocar a frase: e aí foi bom pra você; pelas confissões pessoais de um coração vagabundo. Sei que é um estilo de vida muito arriscado, eu mesmo já tomei muito na cara por isso, mas por outro lado sou muito feliz sabendo que os que tenho comigo, não os tenho por mascara, eles sabem quem sou, pelo menos na mesma medida que eu já descobri de mim mesmo.
Exatamente pela razão de ser mais ou menos em quase tudo, e isso inclui principalmente a escrita, resisti muito à idéia teimosa de criar esse espaço aqui, na verdade ainda estou cabaleando com a idéia, também, ninguém mandou eu ficar viciado na conversa gabiru de Marcos Felipe, andar fuçando o blog do Messias, me deliciar com as prosas e os versos de Neta e vez por outra me arriscar a ler Marcos Monteiro, rsrsrs ainda tenho o agravante de ter conhecido Angelita Marques, essa figura inoxidável, kkkkkk... Pronto, agora o resultado é esse, me tornei um cidadão cheio de complexo e medroso acerca da arte de exprimir sentimentos, pensamentos e criticas através das letras. Mas estou tentando com todas as forças vencer essa timidez e começar a dedilhar as primeiras percepções inocentes. Por isso peço o apoio e a compreensão de todos, pois esse pequeno passo que estou dando trata-se da tentativa de vencer um trauma sério na minha vida causado indiretamente por essas figuras cativantes que citei acima. rsrsrsrs
Desde já agradeço, 
 Beijos em todos e todas!!!
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