Lembrar somente não será suficiente para que a relação dure muito tempo. Como tudo na vida, precisamos ter flexibilidade e habilidade para sabermos a hora e o tempo das coisas e, também, saber que a vida não é tão linear como parece, é preciso saber esquecer também. Descobri isso quando li que a memória é o estômago da mente. Para ali vão às comidas mais variadas, umas saborosas e de digestão fácil, outras amargas e impossíveis de serem digeridas. Quando isso acontece, o corpo se contorce e enjoa, e coisa alguma é capaz de fazê-lo feliz. Até que o próprio corpo se aplica o remédio, vomita, e assim se livra da comida que o fazia sofrer. Memória, estômago: há nela coisas que precisam ser vomitadas, para que corpo possa de novo se alegrar. Pois o esquecimento é a memória vomitando o que faz o corpo sofrer.
É preciso esquecer para poder ver com clareza. É preciso esquecer para que os olhos possam ver a beleza. As Sagradas Escrituras contam a saga da mulher de Ló. Deus permitiu que o casal fugisse das cidades amaldiçoadas de Sodoma e Gomorra sob a condição de que não olhassem para trás, enquanto o fogo do céu as consumia. A mulher não resistiu à curiosidade, olhou para trás, e foi transformada em estátua de sal. Quem fica com os olhos fixados no passado de forma totalitária, se torna incapaz de ver o presente. E quem não tem olhos para o presente está morto.
Alberto Caeiro diz que o essencial é saber ver/ uma aprendizagem de desaprender/ Saber ver sem estar a pensar/ Saber ver quando se vê/ Ver com o pasmo essencial que tem uma criança, ao nascer/ Sentir-se nascido a cada momento/ para a eterna novidade do mundo...
O desafio que esta diante de nós é o de sempre aprender um com o outro, e conseqüentemente com a vida. Repetindo uma palavra que amigo meu gosta muito de dizer; sejam ensináveis. Aprendam novamente e, quem sabe, desaprendam para aprender. Ouçam o conselho de um sábio escritor que disse: Tomem um banho. Deixem a água correr pelo corpo... Sentir os detritos do passado se despregando, e entrando pelo ralo. Recuperar o corpo sem memória da criança, para ver o mundo como se fosse à primeira vez...
Li uma parábola de uma casa que tinha sido pintada inúmeras vezes e, que quando se raspava uma camada de tinta iam aparecendo outras e mais outras, até chegar à pintura de origem. Assim somos nós, cheios de camadas de pinturas que a vida nos impõe. Precisamos ajudarmos mutuamente a tirar as camadas um do outro, para de fato saber quem somos, pois tenho certeza que gostaremos de nos conhecermos na essência. Somos criação de Deus, com capa cascuda do mundo, cheios de preconceitos, artimanhas e maquinações que camufla a nossa beleza interior.
Entendam que o passado determina o futuro, mas não no sentido de ser repetido, mas lembrado, ou quando necessário esquecido. Acredito que todos nós temos muitas coisas que gostamos de lembrar, e algumas que queremos esquecer para seguir em frente. Assumindo ou não, sempre será assim. Esquecer, podemos considerar como um conjunto de Rés, parecendo uma nota musical: Ré - fazer, ré - pensar, ré – analisar, ré – conhecer, ré – construir, e até mesmo perdoar, o que muitos de nós precisamos aprender novamente a fazer, e sempre precisaremos disso.
Dito tudo isso, digo a todos que vão em frente, sejam felizes. Amem-se, vivam. Não sejam tímidos, pois como diz o ditado: O amor é lindo, ou seja, torna tudo lindo. Não aceitem conselhos pessimistas, principalmente de quem acha que sabe alguma coisa, pois estamos todos neste mundo de meu Deus aprendendo, sempre aprendendo. Sei que sabemos o que precisamos esquecer e com certeza não será do outro, pois a saudade não deixará. Segundo Ruben Alves: No buraco da saudade mora a memória daquilo que amamos, tivemos e perdemos: presença de uma ausência.
Para concluir, peço que vivam intensamente, vivam o que Drummond chama de Inconfesso Desejo,ler poesia, pois o tempo urge, foge. Como já dizia o tio de um amigo meu:
Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será. R. Alves
Isso aqui só foi um dos meus devaneios, tenho isso de vez em quando, e encontrei um doido que teve coragem de publicar... Rsrsrsrsrsrsrs. Saibam que não é nenhum texto bem elaborado para ser publicado, e sim um diário pessoal, ou era né? Quem sabe uma homenagem a você do dia dos namorados?! kkkkkkkkkk.
Jefinho Silva