
Já há algum tempo ando decepcionado com a liturgia de nossas igrejas evangélicas, participei de um culto onde o grupo musical tentava de todas as formas animar e sensibilizar os fiéis presentes, os apelos iam se intensificando diante da frieza da platéia que não reagia ao animador de palco, talvez por lhe faltar carisma. Houve um momento interessante quando o microfone falhou durante uma música inteirinha e os espectadores do culto ficaram olhando pro semblante frustrado do cantor. Pensei em meu coração, meu Deus será isso mesmo prestar um culto a Ti? Saí daquele ambiente com o coração entristecido por perceber que nossos momentos de celebração coletiva se dissolveram em momentos vazios, carregados de sensacionalismo e abuso de manipulação de consciências através de técnicas que alienam psico-emocionalmente o indivíduo roubando-lhe a capacidade de ser autônomo na busca de experimentar Deus em suas diversas possibilidades, suprimindo assim qualquer meio de transcender. Pra não me desesperar de vez Deus me deu a oportunidade de passar bons momentos com um amigo, o que já é uma boa experiência de louvor, mas não ficou por aí, tive a alegria de assistir na casa dele O Solista (filme baseado em fatos reais); que experiência extraordinária! Conta a história de um escrisofenico tocador de violoncelo que vive nas ruas e é conhecido p
or um jornalista que procurava uma boa história para sua coluna que não ia nada bem. O que me chamou a atenção era como esse rapaz interagia simultaneamente com a música e a vida de forma sagrada. A primeira vez que ele pegou o violoncelo após anos que não o tocava ele mergulhou na melodia da música a ponto de experimentar o chamado sentimento oceânico, flutuar sem sair do lugar, e o jornalista foi junto com ele ao fechar os olhos e deixar aquela atmosfera divina o envolver.

Quando ele tocava as músicas de artistas conhecidos e renomados ele tinha a capacidade de trazê-los de volta a história e interagir com eles, conseguia vê-los sentados numa simples janela de um velho apartamento. Assistindo esse filme também fui envolvido de tal maneira que senti a presença de Deus comigo e era como se meu corpo estivesse leve, a experiência que não tive no “culto” naquela igreja, vivi recostado numa poltrona frente uma TV, numa dessas tardes silenciosamente normais; foi então que eu sussurrei: meu Deus eu quero louvá-lo assim, como Nathaniel Anthony Ayers Jr... Livre-me da religiosidade oca, dos mantras triunfalista, da pretensão de poder, da alienação espiritual e principalmente do desperdício de oportunidades de te experimentar na diversidade da vida com suas cores, dores e alegrias. Quero percebê-lo como nunca o percebi, quero vê-lo onde nunca imaginei que pudesse ver, quero senti-lo além do que minha mente limitado já me permitiu sentir.
Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor. Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. (Sl 51;15,16)
Shalon!!!