terça-feira, 6 de agosto de 2013

A Perfeita Imperfeição























“A capacidade de encanto diante da beleza, seja ela qual for, tem como basilar catalisador a noção e consciência da imperfeição intrínseca aos avessos do que é belo”. 


Desde os primórdios da humanidade o homem sente-se incomodado com essa realidade que lhe parece inerente, e que o potencializou a enxergar seu habitat como portador de defeitos de fabricação também. 


Não foi a toa que Deus passou a ser questionado acerca de sua própria perfeição, beleza e poder. Não foram poucos os que ousaram colocar em xeque os atributos divinos devido à observação de que tanto o mundo, como as pessoas, lidam desde sempre com o fato de que a criação não é um projeto perfeito. 


Ainda nos dias atuais este questionamento não perdeu força: como que um Deus perfeito desenvolveria um projeto com tantas imperfeições?

Porém é exatamente da força desse questionamento que podem surgir as percepções mais belas dessa ambivalência divina. 


Parece ser razoável perceber perfeição em um Deus que abre mão do que é exato, adequado, irretocável, para ceder espaço e livre consciência para o que seria “eternamente” inacabado e infinitamente aprendiz como é o homem.

Além disso, é plausível notar que quanto mais lidamos com a realidade da imperfeição, mais aguçamos nosso senso de beleza. 


O imperfeito aperfeiçoa os olhos para contemplarmos beleza onde não enxergaríamos sua totalidade, caso nos fosse negado tal tirocínio. Nem saberíamos o que é belo se não contemplássemos seu avesso.  


Tal experiência também gera em nós o milagre de ver beleza na imperfeição, e entender que esta é tão essencial quanto a luz que dissipa o breu e revela os cantos. É o milagre de aceitar a dubiedade mais intima e aprender a SER, com ela. 


Pe. Fabio de Mello foi muito feliz quando disse que, “o não ser está no avesso do ser, assim como o tecido só é tecido porque há um avesso que o nega, não sendo outro, mas completando-o. O que não sou também é uma forma de ser. Eu sou eu e meus avessos”.


O caminho para a construção do SER consiste nesse respeito e acolhimento aos seus próprios avessos. Não os negue, não se negue, não renuncie a vida que pulsa dentro de você.

Léo Dias

domingo, 20 de janeiro de 2013

Sonhei, Vi Deus


Hoje tive um sonho, nele, eu e um montão de gente chegávamos ao céu.
Com expectativa todos que estavam comigo tinham o desejo de ver a face de Deus. Logo que adentramos os portões célicos, demos de cara com uma enorme tenda rosa-choque, sua entrada era coberta por um véu negro misterioso, chegava a ser horripilante, por um momento me perguntei: será que não erramos de endereço?

Pra nossa surpresa apareceu um anjo anão trajando vestes azul-bebê, - tivemos que nos conter pra não rir da cena hilariante – ele trazia uma caixinha preta de bolinhas brancas com os seguintes dizeres: Fichas para ver Deus. Logo estávamos em uma fila desorganizada, acotovelando-nos pela bendita ficha que nos levaria a presença de Deus, e o baixinho nanico com a voz ainda mais engraçada que suas vestes e seu tamanho, pedia calma e ameaçava não distribuir as fichas caso não nos comportássemos.

Um por um fomos recebendo as fichas para vivenciar o momento tão sonhado por toda nossa existência. Enquanto aguardávamos na fila, começamos a nos conhecer, - por incrível que pareça, ninguém naquela fila se quer já havia visto o outro antes - daí cada um começou a descrever a imagem que tinha de Deus, era cada coisa mais pitoresca que a outra; uma coisa que me intrigou foi que muita gente daquela fila não imaginava que Deus tivesse a figura de um ser masculino, a ideia de um Deus-Mãe era muito mais comum do que eu imaginei, já outros tinham a imagem de um velho carrancudo com uma bengala na mão e um humor áspero, notei que estes não estavam muito a vontade e empolgados, pareciam amedrontados com o que ouviriam dentro daquela tenda; foi então que fomos surpreendidos por uma música no mínimo diferente de tudo que já ouvi, e o nanico anunciou: que entre o primeiro!

Tratava-se de um rastafári com um molejo peculiar e uma malemolência de dá inveja, ele entrou. Do lado de fora apreensivos ouvimos algumas gargalhadas vindas de dentro da tenda rosa-choque e ficamos atônitos sem entender o porquê. Alguns minutos depois ele saiu com um sorriso iluminado e o andar ainda mais leve que o da entrada. Alguém lhe perguntou, e aí, como ele é? Ao que ele respondeu: relaxa, você vai ver, e se riu compulsivamente.  O segundo foi anunciado, era um jovem com o semblante preocupado, ele encabeça a lista do grupo que via Deus como aquele velho ranzinza. Entrou em passos lentos e duvidosos, parecia não querer entrar, foi levado pela grande curiosidade que tinha; segundos depois ouvimos um grito estranho como que de um grande susto e poucos minutos depois sai o jovem com o semblante pálido, uma das mãos na boca e os passos apressados, ficamos perplexos.

Chegou a minha vez e logo meu coração disparou em palpitações, já não sabia mais o que eu realmente queria, mas fui. Ao adentrar as cortinas negras, passei por um corredor com imagens familiares de animais lindos, no final do corredor tinha outra cortina, dessa vez colorida com as cores do arco-íris, ao atravessá-la levei um baita susto, era uma sala repleta de espelhos onde vi inúmeros reflexos da minha própria imagem, alguns deles permitiram perceber-me por ângulos que nunca havia observado antes, fiquei ali girando e me olhando, como quem tinha acabado de conhecer uma nova pessoa, foi aí que de repente meus reflexos sumiram e apareceram imagens de pessoas íntimas a mim, gente que machuquei, julguei, fui preconceituoso e omisso; naquele momento meu coração apertou e eu fiquei num silêncio perturbador, mas antes que baixasse a cabeça apareceram imagens de amigos, parentes e do meu filho Emanuel, minha mente foi tomada por lembranças de momentos divinamente belos, depois as imagens sumiram e meus reflexos voltaram para os espelhos, meu tempo "com Deus" acabou.

Saí com a cara pensativa e um quase rir de canto de boca, sentei-me a beira de um lago e fiquei aguardando enquanto os outros entravam na tenda, nesse momento apareceu uma linda mulher, com traços tão perfeitos que eu não ousaria qualquer descrição, sentou-se do meu lado e suavemente me indagou: e aí, você viu Deus? Ao que eu respondi: não, infelizmente não vi. Ela com a voz ainda mais suave insistiu: Tem certeza? Silenciei-me.. Nesse momento uma voz interior me interpelou: Léo, eu não tenho uma face, mas posso ter milhares; não tenho o poder, mas posso ser energia amorosa que embala relações que tem esse propósito; não estou no tempo, mas sou o convite para dançar a eterna ciranda da vida que não para; e não sou uma filosofia, prefiro ser o mito utópico que pode ser visto, percebido, mas nunca alcançado, a não ser que vocês percebam que eu sempre estive e estou em vocês e entre vocês, eu te amo.

Enquanto eu estava me deliciando com essa doce voz, Emanuel me acordou, e eu vi Deus, de novo.


Léo Dias

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Sobre Deus, Melodias e Danças - Criação.
























E viu Deus que na sua amorosa exatidão o melhor a fazer era repartir-se, deixar-se derramar, transbordar, jorrar para o espaço e o tempo esse amor infinito que sempre habitou a eternidade, como vestes que sempre lhe couberam perfeitamente bem; criou. 

Como um exímio artista, moldou com as próprias mãos seus arquétipos. Cantava e dançava alegremente uma canção de cirando enquanto pintava, torneava e delineava suas artes, e lhes davam vida com um sopro suave, sem interromper a música. Nietzsche foi feliz quando disse: "Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar".

A melodia da canção que entoava lhe interpelou profundamente com uma realidade, “meu amor precisa ser celebrado para além de mim, quero contemplar seu efeito, sua cor e intensidade ‘fora’ de minhas entranhas”.  Foi então que seu inconsciente sussurrou: “isso não vai dá certo, eles hão de querer ser deuses”, ao que ele retrucou: “mas é o que eles serão; os farei a minha ‘cara’, imagem e semelhança (amor)”. 

Ser humano é o jeito mais abrangente de gozar sua divindade intrínseca. 

Fez gente, “homem”, livre consciência, paralela a Si. Pegou-lhe pela mão convidando-o para a ciranda; este até que dançou por algum tempo, e gostou, mas ao ver a possibilidade de imprimir outros ritmos e até de poder largar-lhe as mãos e criar suas próprias coreografias, não pensou duas vezes, abriu as mãos, abriu mão, e se foi.

Mergulhou na existência, resolveu perscrutar, conhecer, criar seus próprios caminhos, dançar suas músicas, pintar seus próprios quadros, fazer arte, fazer deuses, “fazer vida”. E nesse grito, pulo, mergulho da humanidade na sua auto-independência, Deus conheceu  suas costas, seu avesso. 

Mas não foi surpreendido, o perfeito amor nunca é pego de surpresa, visto que está preparado para absolutamente tudo. É só por isso que nos foi dada a dádiva de existir, pois para todo sempre nosso destino seria o amor. 

Ainda que os desdobramentos da aventura humana tenham gerado caos, dores, lágrimas, tristezas e descontentamentos, é certo que uma nuvem de amor nos cobre e nos envolve, sempre. 

Os mais bem-aventurados são os que conseguem fazer uso do potencial divino gravado em seu DNA, se aventurando na auto-descoberta, entregas, prazeres e partilhas, caminhando sempre adiante, sem deixar de regressar quando necessário for. 

O caminho para Deus é o mesmo que nos leva ao outro, nos entrega à vida e devolve-nos a nós mesmos. 

Viva, caminhe.

Léo Dias.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Súplica do Amor


















Por favor, libertem-me!

Tirem-me da jaula dos conceitos!

Socorram-me dos labirintos filosóficos!

Salvem-me do mar das idealizações!

Acudam-me das tempestades de desejos!

Protejam-me das gaiolas das possessões!

Valei-me da felicidade utópica!
...

Sou borboleta, sou beija flor..
Sou riso, sou dor..
Sou frio, sou calor..
Sou cheiro, sou flor..
...

Sou lago, sou rio..
Sou lugar, sou caminho..
Sou água, sou vinho..
...

Sou palpável, sou abstrato..
Sou transcendente, sou imanente..
Sou graça, sou vida..
...

Sou Amor, Sou Deus.. 

Léo Dias

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Da Minha Solidão























Arthur Schopenhauer já dizia: “A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais”.

Por alguma razão que deve estar escondida nas entranhas do meu ser, a solidão me é uma companheira tão fascinante quanto à presença de pessoas afáveis. 

Sou apaixonado por gente, gosto de compartilhar meus momentos com aqueles que amo, especialmente com os cúmplices rss. Pra mim, são as pessoas que dão sabor, sentido e cor a nossa existência, e isso é divino; mas quem disse que estar sozinho é de fato estar só? E quem falou que o contrário também é verdadeiro? Existe muita gente rodeada de pessoas, porém carregando um isolamento mórbido em seu ser. 

Eu não penso que solidão precisa ser sempre acompanhada de melancolia e pré-disposição para reações depressivas, não; um retiro solitário na verdade pode ser uma oportunidade de vários encontros, com você mesmo e com inúmeras pessoas que não tem oportunidade de lhe interpelar enquanto está no meio da multidão e dando atenção a inúmeras solicitações. 

Quando foi a ultima vez que você bateu um papo franco e sincero com você mesmo? Sua própria companhia lhe é bem vinda ou você prefere fingir que és irremediavelmente uma pessoa indivisível e incapaz de estabelecer um auto diálogo?

Por outro lado, existem experiências, pessoas e vozes que só terão oportunidade de despertarem dentro de você na solitude, e todas elas têm uma importância singular na sua jornada de desenvolvimento e amadurecimento para seu bem-estar integral. 

A solidão também é parceira da sua mais íntima autenticidade. Aquilo que você não tem coragem de fazer (ser feliz, por exemplo) na frente das pessoas – por timidez ou vergonha - no momento solitário você desprende-se do pavor do olhar especulativo dos outros e por um momento vive a arte de ser criança, entregando-se aos ritmos dos seus instintos mais legítimos.  

Quero sim, sempre que preciso for, bailar com a solidão. Quero fechar os olhos e abrir meu coração - para vozes esquecidas, experiências não significadas, melodias despercebidas e sabores inexprimíveis - sem medo de SER. 

Léo Dias

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