“A capacidade de encanto diante da beleza, seja ela qual for, tem como basilar catalisador a noção e consciência da imperfeição intrínseca aos avessos do que é belo”.
Desde os primórdios da humanidade o homem sente-se incomodado
com essa realidade que lhe parece inerente, e que o potencializou a enxergar
seu habitat como portador de defeitos de fabricação também.
Não foi a toa que Deus passou a ser questionado acerca de sua
própria perfeição, beleza e poder. Não foram poucos os que ousaram colocar em
xeque os atributos divinos devido à observação de que tanto o mundo, como as
pessoas, lidam desde sempre com o fato de que a criação não é um projeto
perfeito.
Ainda nos dias atuais este questionamento não perdeu força:
como que um Deus perfeito desenvolveria um projeto com tantas imperfeições?
Porém é exatamente da força desse questionamento que podem
surgir as percepções mais belas dessa ambivalência divina.
Parece ser razoável perceber perfeição em um Deus que abre
mão do que é exato, adequado, irretocável, para ceder espaço e livre consciência
para o que seria “eternamente” inacabado e infinitamente aprendiz como é o
homem.
Além disso, é plausível notar que quanto mais lidamos com a
realidade da imperfeição, mais aguçamos nosso senso de beleza.
O imperfeito aperfeiçoa os olhos para contemplarmos beleza
onde não enxergaríamos sua totalidade, caso nos fosse negado tal tirocínio. Nem
saberíamos o que é belo se não contemplássemos seu avesso.
Tal experiência também gera em nós o milagre de ver beleza
na imperfeição, e entender que esta é tão essencial quanto a luz que dissipa o
breu e revela os cantos. É o milagre de aceitar a dubiedade mais intima e
aprender a SER, com ela.
Pe. Fabio de Mello foi muito feliz quando disse que, “