quinta-feira, 3 de março de 2011

Vôos e Gaiolas

“O desafio constante das relações humanas é preservar a liberdade das pessoas. Quando a liberdade é negada, a relação passa a representar um sério risco, porque atenta diretamente contra a fonte geradora da pessoa. Não há pessoa sem a experiência da liberdade”Fábio de Melo

Pensando sobre a experiência da liberdade nos relacionamentos fui arremessado à lembrança de um fato que me ocorreu ainda na infância. Lembro-me que quando garoto, na minha vizinhança morava um rapaz louco por pássaros, ele os colecionava engaiolados pendurados à frente de sua casa. Eram cinco pássaros cada um com sua gaiola particular e suas individualidades de cores e cantos.

Com o passar do tempo notei algo estranho, percebi que os pássaros que estavam livres nas árvores que ficavam ao redor do campinho onde eu e meus amiguinhos jogávamos futebol tinham cores mais vibrantes e a tonalidade de seus cantos era mais alta e mais firme comparado aos pássaros que viviam engaiolados daquele meu vizinho. 


Um dia na minha inocência infantil, enquanto ele limpava a gaiola de um deles, eu perguntei: por que eles estão presos nessas gaiolas? Ao que ele me respondeu friamente: menino, você não entende nada de canto de pássaros, quando você crescer vai entender que quanto mais belo o canto mais valiosos eles são e por isso estão aqui para cantar pra mim todos os dias; veja! Ele está bem, têm comida, bebida, vitaminas, que mais ele poderia querer? Eu, com minha voz tímida respondi instantaneamente: voar talvez. Aquele rapaz baixou a cabeça rindo sarcasticamente de mim, e pendurou o pássaro novamente no seu monótono lugar.  

Foi então que eu tive um belo plano; quando voltar da escola amanhã vou esperar ele sair pro trabalho e vou libertá-los.

O plano era maravilhoso, e eu consegui executá-lo com perfeição apesar da adrenalina, mas eu fui surpreendido por uma triste realidade; após ter aberto as portinhas das cinco gaiolas e esperar com expectativa o vôo de liberdade daqueles pássaros notei que três deles não queriam sair das gaiolas e os outros dois que saíram, devido ao tempo de cativeiro não conseguiam mais voar, tornando-se assim presas fáceis para seus predadores, pois o máximo que eles conseguiram foi dar curtos saltos.

Assim como esses pássaros, somos muitas vezes atraídos para alçapões com delicias que nos são oferecidas em troca da nossa mais intima subjetiva, nossa liberdade, a capacidade de alçar vôos e cantar as belezas da vida encantando a nós mesmos e a quem mais for livre. 

Somos atraídos por promessas de felicidade instantânea, amores eternos, fidelidades insuspeitas e alegria constante e quando menos percebemos roubam-nos de nós mesmos nos tirando a matriz geradora do potencial de amar; nosso direito de ir e vir, de voar.

O problema é que essas armadilhas são extremamente sutis e se escondem onde menos esperamos; as vezes nos braços de uma amada, numa religião, numa amizade e principalmente em ideologias.  Independente do perfil da gaiola o final é sempre o mesmo, reclusão. 

Pra quem está a tanto tempo preso, mas ainda tem vontade de voar, pois percebe que isso implica sua própria felicidade, eu sugiro um trecho do que cantou nosso poeta Djavan... 

"Me deram uma gaiola como casa, amarram minhas asas e disseram para eu ser feliz; mas como eu posso ser feliz num viveiro, se ninguém pode ser feliz sem voar?

Ah, se todo mundo pudesse saber como é fácil viver fora dessa prisão e descobrisse que a tristeza tem fim e a felicidade pode ser simples como um aperto de mão. Entendeu?

É esse o vírus que eu sugiro que você contraia, na procura pela cura da loucura, quem tiver cabeça dura vai morrer na praia".

Não seja cabeça dura, liberte-se!!!

Léo Dias  
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