terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Pitangas de 2010

Sempre costumo comparar momentos da minha vida com o prazer ou des-prazer da degustação de pratos diversos da nossa rica culinária e de frutas deliciosamente suculentas. Lembro-me de ocasiões inesquecíveis que eu saboreei nessas minhas andanças como quem descasca uma manga com os dentes, lambuzando as bochechas e lambendo os dedos sem vergonha de ser feliz. (risos)... Porém de todos os gostos de frutas saborosas, há um que não só representa momentos marcantes como traz em si lições de vida pra mim. Estou falando da pitanga.

Cresci chupando pitangas que roubava no quintal dos vizinhos da minha mãe. Logo cedo descobri que existe uma arte para chupar pitangas, é necessário ter bons olhos e um aguçado olfato para aproveitar ao máximo do delicioso sabor dessa frutinha que mistura magicamente doçura e cítricidade na medida perfeita. Chamo de arte da degustação porque a depender da cor e do cheiro as pitangas variam de sabor, é por essas duas característica que você descobrirá qual a pitanga mais doce de todas; e aqui vai a dica: selecione-as em ordem para que você possa chupar primeiro as mais azedinhas e fechar com a mais deliciosa em sintonia de sabor. Ou você faz isso, ou do contrário terá o desprazer de carregar um gosto amargamente azedo na boca por longos minutos. Lembre-se: Nunca chupe a pitanga mais doce primeiro, isso ta fora de questão.

Finda-se mais um ano, ano este em que experimentamos momentos cítricos, amargos, azedos e doces. Compartilhamos do nosso tempo com pessoas inesquecíveis e pessoas que preferimos nem lembrar, angustiamo-nos com situações fora de controle onde nos percebemos totalmente frágeis e incapazes de qualquer reação; alguns experimentaram dores indizíveis e decepções arrasadoras. Meu convite é para colhermos as pitangas mais vermelhinhas, carnudas e cheirosas nestes últimos dias do ano, estou falando da nossa capacidade de emprestar sentido as coisas, os momentos, as pessoas. Estou falando de ressignificação, de aprendizado, da possibilidade de olhar o mesmo fato de ângulos diferentes e perceber que o que você havia visto e sentido não eram os únicos caminhos de sensações e de pontos de vista.

Nós seres humanos temos essa divina capacidade de enxergarmos além, de compreendermos, de nos refazermos, de resistirmos, suportarmos, levantar a cabeça e seguir adiante, então sigamos... continuemos a caminhada sabendo que apesar de não termos as prerrogativas da existência em nossas mãos temos um coração cheio de fé, mesmo que pequena, porém posta no Abba que nos ama incondicionalmente e nos dá a capacidade de aprendermos com nossos erros, de dar a volta por cima quantas vezes for necessário levantando e sacudindo a poeira. 

 Saber chupar as pitangas certas é saber que às vezes você não pode escolher o que ouve, mas pode escolher o que crer, nem sempre pode escolher os fatos, mas pode escolher as lições, que não dá para apagar a cicatriz, entretanto é possível não sentir mais dor; é ser capaz de enxergar beleza e arte nas imagens em preto e branco. É ter fé no futuro que se consuma no próximo segundo que já está sendo escrito, vivido e pode ser celebrado já.

Nesse caso, desejo a todos um maravilhoso 2010, na esperança de que você olhe pra traz e colha uma deliciosa pitanga do seu jardim, enchendo o coração de graça e alegria pela sua trajetória; pelas cores, amores e dores, faz parte! (risos)... 2011 ta logo ali nos aguardando, ótimas pitangas pra você!!! 

Aos meus amigos pitangas, 

um grande beijo, 

obrigado por este ano!

Léo. 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O Sol, o Mar e Eu

Acabei de chegar do meu momento de natação, prefiro chamar de ocasião em que faço amor com o mar, é isso mesmo; afinal de contas não há outra definição para descrever um momento de intenso prazer dos pés a cabeça, acompanhado por um cansaço relaxante.


Por tudo isso amo nadar, porém hoje foi ainda mais especial, pois enquanto eu coabitava com o mar notei que o sol estava enciumado com a minha presença e deleite. Ele nem conseguiu disfarçar, trazia em seu semblante o descontentamento. Hoje ele se poria bem sem graça devido à cortina de nuvem que o escondia, contudo quando me avistou derramado sobre o mar, puxando-o para meu corpo, sentindo-o deslizar sobre minha pele, logo o gigante solar tentou deitar-se mais rápido e estendeu seus raios para abraçá-lo, entretanto mais uma vez não conseguiu SENTIR.


Para o Sol o único meio de prazer é o calor, ele não faz idéia da sensação de um arrepio gostoso, muito menos do que é ter o corpo todo envolvido por uma atmosfera suavemente geladinha. Uhm que delícia! 


Como todo bom momento de amor precisa de uma pausa para a contemplação, parei no meu ponto favorito para sentar e rir da fisionomia caída do sol; é uma ponte de madeira que fica num dos lugares mais lindos aqui do meu paraíso, eu chamo esse lugar de meu santuário natural. 


Enquanto o sol olhava pra mim com aquele sorriso amarelo, eu o pirraçava alisando o mar com os pés e sorria de cantinho, olhando pra ele disfarçadamente. Mas o que deixou o sol furibundo da vida mesmo, foi quando um casal que estava num veleiro ancorado no meio do mar, balançando no gingado das ondas, pulou de mãos dadas e se banharam em amor tropical, foi ai que ele tentou se esconder mais rápido para não olhar pra mim e ver minha cara de sarcasmos, mas antes que o fizesse eu me levantei na ponte, dei um psiu pra ele e disse: Ei, você viu? Prazer não se faz só com calor, mergulhar também é SENTIR!

Sorri e mergulhei, ainda tinha energia para mais meia hora de amor com o mar... (risos). 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Natal: A re-pintura do rosto de Deus

Corram, anunciem para os oito cantos do mundo, O menino nasceu, e pasmem: ele não se parece nem um pouco com o Pai, tem outras cores e odores, seus traços são leves, o contorno do seu rosto tem curvas bem definidas que trazem a tona uma assustadora realidade; quem é o pai dessa criança? Pois ao compararmos o seu semblante com aquele quadro caricaturado na parede daquele que dizem ser o pai dele não vemos se quer pequenas semelhanças. E agora como saberemos quem é o pai dele? Bem que ele parece com aquele moço que está se recuperando do assalto que sofreu uns dias atrás e que foi socorrido por um tal samaritano. Engraçado isso... Ele tem traços de tanta gente! Já reparou como ele lembra bastante aquele cego esmole a beira do caminho? Vixe! Quantos traços marcantes que lembram tanta gente, ta difícil de saber quem é o pai do garoto, vê se ele não lembra o Déi, o Marquinhos, o Messias, o Jefinho, Cássio! Até com o Léo ele se parece. Bom, vamos aproveitar que 05 anos se passaram e deixar que ele mesmo nos diga. Já sei, tive uma grande idéia, vamos dá uma tela, tintas e um pincel a ele, e pedir que desenhe o rosto de seu pai. - Meia hora depois o menino sorrindo mostra sua mais recente obra de arte, e o rosto no quadro era a cara do menino e a cara do menino é a minha, a sua, a do marginalizado, do excluído, do discriminado, a do miserável, a nossa. O menino Emanuel re-pintou o rosto de Deus e nos mostrou que ele pode ser encontrado todos os dias em lugares inimagináveis; esse é o natal de todos os dias, que seja o nosso natal.

Um caloroso abraço natalício a todos!!!                                                                                                 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Alma Nua

Ó Pai não deixes que façam de mim o que da pedra tu fizestes e que a fria luz da razão não cale o azul da aura que me vestes. Dá-me leveza nas mãos, faze de mim um nobre domador laçando acordes e versos dispersos no tempo pro templo do amor. Que se eu tiver que ficar nu hei de envolver-me em pura poesia e dela farei minha casa, minha asa, loucura de cada dia. Dá-me o silêncio da noite pra ouvir o sapo namorar a lua, dá-me direito ao açoite ao ócio, ao cio à vadiagem pela rua. Deixa-me perder a hora pra ter tempo de encontrar a rima ver o mundo de dentro pra fora e a beleza que aflora de baixo pra cima. Ó meu Pai, dá-me o direito de dizer coisas sem sentido, de não ter que ser perfeito pretérito, sujeito, artigo definido; de me apaixonar todo dia, de ser mais jovem que meu filho e ir aprendendo com ele a magia de nunca perder o brilho; virar os dados do destino de me contradizer, de não ter meta, me reinventar, ser meu próprio Deus. Viver menino, morrer poeta. (Alma Nua – Vander Lee)

Quero o direito de metamorfosear-me com leveza, quem tem o projeto final de quem devo me tornar? Não quero perder preciosos momentos da minha vida me preocupando com as expectativas que existem nos outros a meu respeito. Me disseram que eu tenho que desempenhar bem diversos papeis na sociedade; como assim? Não me recordo de ninguém pedir minha opinião enquanto os escreviam para mim. Quem me quizer terá que receber o pacote completo com suas delícias e amarguras. Quero crescer, evoluir, aprender, amadurecer, descobrir e acima de tudo desaprender, mas quero que tudo isso transcorra com a liberdade de um riacho que desce desembestado ao encontro do mar. Se para estar comigo você tem que me mudar à seu molde, desisto não vai dá assim, eu não me encaixo na sua moldura por mais bela que ela pareça para você. Já tentei fazer de mim um pedacinho do anseio de todo mundo que de mim espera algo, quase elouqueci. Quem quizer caminhar comigo vou logo avisando, não espere e eu não lhe decepcionarei, saiba que quero que quando a idade mais avançada chegar eu tenha muito pouco a dizer sobre coisas que gostaria de ter feito e não fiz, prepare-se para “surpresas”. Pra você pode ser mais fácil dizer onde está a verdade, pra mim é mais fácil identificar onde ela não está e tenho certeza que não está em você. Não me negue o direito de errar por achar que você sabe o melhor caminho, pois novos caminhos se fazem onde nunca houve antes e para fazê-los as vezes é necessário lagrimas, sangue, arranhões, cicatrizes e grandes e intransferíveis experiências. Repito o que já disse: Deixe-me arriscar, errar, sofrer, crescer e SER mais... Deixe-me pular e não coloquem nenhuma cama elástica abaixo de mim; preciso sangrar pra sentir que vivi... Por favor deixe-me.
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