segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Louvor do Solista

Há poucos dias atrás vivi duas experiências extremamente antagônicas acerca da oportunidade de interagir com Deus através do louvor. Sei que a palavra louvor tem uma dimensão muito maior do que a igreja a reduziu. Quando falamos de louvar a primeira coisa que vem a nossa mente é estar entre quatro paredes numa noite de domingo cantando pra Deus, o que eu acredito estar incluso nessa experiência, mas não ser o único meio de fazê-lo. Penso que louvar é acessar a Deus na multiformidade de suas expressões na vida; onde o “vejo”, o sinto e o percebo esta é minha experiência de louvor. 

Já há algum tempo ando decepcionado com a liturgia de nossas igrejas evangélicas, participei de um culto onde o grupo musical tentava de todas as formas animar e sensibilizar os fiéis presentes, os apelos iam se intensificando diante da frieza da platéia que não reagia ao animador de palco, talvez por lhe faltar carisma. Houve um momento interessante quando o microfone falhou durante uma música inteirinha e os espectadores do culto ficaram olhando pro semblante frustrado do cantor. Pensei em meu coração, meu Deus será isso mesmo prestar um culto a Ti? Saí daquele ambiente com o coração entristecido por perceber que nossos momentos de celebração coletiva se dissolveram em momentos vazios, carregados de sensacionalismo e abuso de manipulação de consciências através de técnicas que alienam psico-emocionalmente o indivíduo roubando-lhe a capacidade de ser autônomo na busca de experimentar Deus em suas diversas possibilidades, suprimindo assim qualquer meio de transcender. Pra não me desesperar de vez Deus me deu a oportunidade de passar bons momentos com um amigo, o que já é uma boa experiência de louvor, mas não ficou por aí, tive a alegria de assistir na casa dele O Solista (filme baseado em fatos reais); que experiência extraordinária! Conta a história de um escrisofenico tocador de violoncelo que vive nas ruas e é conhecido por um jornalista que procurava uma boa história para sua coluna que não ia nada bem. O que me chamou a atenção era como esse rapaz interagia simultaneamente com a música e a vida de forma sagrada. A  primeira vez que ele pegou o violoncelo após anos que não o tocava ele mergulhou na melodia da música a ponto de experimentar o chamado sentimento oceânico, flutuar sem sair do lugar, e o jornalista foi junto com ele ao fechar os olhos e deixar aquela atmosfera divina o envolver.

Quando ele tocava as músicas de artistas conhecidos e renomados ele tinha a capacidade de trazê-los de volta a história e interagir com eles, conseguia vê-los sentados numa simples janela de um velho apartamento.  Assistindo esse filme também fui envolvido de tal maneira que senti a presença de Deus comigo e era como se meu corpo estivesse leve, a experiência que não tive no “culto” naquela igreja, vivi recostado numa poltrona frente uma TV, numa dessas tardes silenciosamente normais; foi então que eu sussurrei: meu Deus eu quero louvá-lo assim, como Nathaniel Anthony Ayers Jr... Livre-me da religiosidade oca, dos mantras triunfalista, da pretensão de poder, da alienação espiritual e principalmente do desperdício de oportunidades de te experimentar na diversidade da vida com suas cores, dores e alegrias. Quero percebê-lo como nunca o percebi, quero vê-lo onde nunca imaginei que pudesse ver, quero senti-lo além do que minha mente limitado já me permitiu sentir.

Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor. Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. (Sl 51;15,16)

Shalon!!!



quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A Vida me Encarou no Olhar de Emanuel


É manhã de segunda feira, mais uma semana começando e a sensação de que a outra que passou escorregou pelos dedos. A cada dia aumenta a impressão de que não estou no mesmo compasso que a vida.

Fomos para a mesa do café e colocamos nosso filhote Emanuel (5 meses) sentado numa dessas cadeirinhas adaptadas para automóveis. Por alguma razão naquela manhã Emanuel acordou com o humor diferente do comum, ele estava sério e compenetrado parecia até um adulto pensando na vida e seus percalços.

Por um momento ficamos só nós dois na cozinha e de repente percebi que ele olhava sério pra mim, costumo interromper esses olhares com brincadeiras infantis falseando a voz pra tentar comunicar-me na sua linguagem, mas dessa vez não sei bem o porque resolvi fitar nele também e devolver a seriedade no olhar, ele não se intimidou, continuou me olhando só que seu olhar foi transformando-se num olhar mais sereno e tranqüilo acompanhado de um quase-rir e eu claro não consegui manter o mesmo, fui me derretendo diante daquele meigo e singelo olhar que me desarmou completamente. Foi quando pensei: enganasse quem pensa que o maior meio de comunicação são as palavras audíveis, há muito mais sons inteligíveis no silêncio de um olhar do que se pode imaginar.

A grande questão é; são raros os momentos que sem medo permitimos que alguém “ouça” e descubra quem somos só pelo ato de um olhar franco e verdadeiro. Penso que este raro fenômeno acontece em duas possibilidades: ou quando duas pessoas estão contaminadas pela febre da paixão que se confunde com amor intenso e eterno, ou quando as pessoas decidem optar por cultivar uma amizade desprovida de polodochias como diz meu amigo Déi.
Ana Carolina recita um poema extremamente interessante a este respeito. Cito abaixo:

“Te olho nos olhos e você reclama que te olho muito profundamente. Desculpa, tudo que vivi foi profundamente. Eu te ensinei quem sou e você foi me tirando os espaços entre os abraços, guarda-me apenas uma fresta. Eu que sempre fui livre, não importava o que os outros dissessem. Até onde posso ir para te resgatar? Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade de me inventar de novo. Desculpa se te olho profundamente, rente à pele, a ponto de ver seus ancestrais nos seus traços. A ponto de ver a estrada muito antes dos seus passos. Eu não vou separar as minhas vitórias dos meus fracassos! Eu não vou renunciar a mim; nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser vibrante, errante, sujo, livre, quente. Eu quero estar vivo e permanecer te olhando profundamente.”

A verdade é que acreditamos estar seguro não mostrando para as pessoas quem genuinamente somos, afinal de contas eu anseio ser amado e quem terá coragem de me amar se eu revelar quem de fato sou. Por isso eu prefiro arrumar uma mascara bem bonita para ir pro baile da vida me apresentar a você na esperança de que você me dê o seu amor que tanto preciso para matar a sede insaciável que não sei decifrar de onde veio. Mas o problema reside exatamente aqui, pois no fundo sei que quando sou amado o amor que está sendo devotado na verdade não é a mim, mas a minha mascara apresentável e assim eu saboto nossa relação, pois você nunca vai poder amar quem de fato sou pois tenho medo de me mostrar e ser abandonado.

Não é de se surpreender que muitos de nós estejamos doentes de alma e amargos da vida. É por isso que não conseguimos olhar por muito tempo nos olhos enquanto falamos ou ouvimos alguém, tememos que nossos olhos contradigam o que fala a nossa boca. Nesse caso ao invés de dizer que a boca fala do que está cheio o coração, seria mais sensato, os olhos falam do que está cheio o coração. Minha mãe costuma dizer que tem coisas que ela fala que nem dá tempo de passar pelo coração. (risos)

Quando lembro do olhar puro de Emanuel pra mim, penso no que disse o carpinteiro de Nazaré: “sejam como criancinhas”. Como criancinhas que nosso olhar, boca e coração falem a mesma coisa para que nossas relações tenham o potencial de ainda curar quem nos tornamos. 

Shalon!

sábado, 16 de outubro de 2010

O que as baleias me ensinaram sobre vocação

Sabe aqueles sonhos de infância? Pois é, recentemente realizei um destes. Fui avistar as baleias Jubarte que nesse período do ano migram aqui pro meu paraíso em busca das águas quentes para fazer amor e darem continuidade à espécie. Morro de São Paulo é afrodisíaco até pros animais. (risos)

Enquanto a lancha se aproximava calmamente daqueles mamíferos gigantescos meu ser era tomado de uma emoção divinamente infantil, meus olhos brilhavam como os de uma criança frente ao brinquedo tão sonhado que acabara de ganhar, mas minha alma adulta  logo interrompeu meu momento de fascínio ingênuo me convidando pra tirar alguma lição daquele momento sublime na companhia daquelas figuras colossalmente desastradas. Foi quando comecei a contemplar o alegre, romântico e leve, levíssimo balé desses seres de toneladas. Perguntei-me, como podem tão grandes e pesadas bailarem e saltarem com tanta graça? Logo a resposta lógica me saltou a mente; elas estão no seu habitat natural, no lugar certo, celebrando a vida. Daí me veio que vocação é exatamente isso: estar no lugar “certo”, celebrando a vida integralmente.

Lembro-me que desde meus primeiros contatos com a fé cristã evangélica ouvi que o vocacionado tem que estar aonde Deus quer, mesmo que seja contrário a sua vontade, perfil e identidade cultural. Nunca concordei que a experiência do profeta Jonas servisse de baldrame para mandar pessoas pra lugares que elas nunca desejaram ir, violentando suas vontades por “amor” ao evangelho.

Penso que de alguma forma, mesmo que o vocacionado aprenda a dar amor a todos quantos passarem pela sua vida, existem pessoas especificas que sua alma escolhe amar e dar a vida com prazer, mesmo que a correnteza da vida o leve por caminhos não elegidos, existem caminhos e lugares que o coração escolhe apreciar como habitat natural e nesses lugares e com essas pessoas até nossas maiores dificuldades e aparentes limitações contribuem para que como as baleias dancemos e celebremos o balé da vida.

Na vocação a maré contrária nos conduz para a evolução e o crescimento como ser-na-existencia, assim como levam as baleias (que se deixam levar) para a próxima parada migratória cumprindo seus ciclos naturais.

Exercitemos nossa vocação seja ela qual for com a leveza das baleias.

Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (MT 11;29,30)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

+ OU - EM QUASE TUDO

Por alguma razão que ainda descobrirei (eu acho), eu sempre fui mais ou menos em quase tudo que fiz. Sério! Lembro-me da minha professora de biologia dizendo pra mim: "Leozinho, você é tão inteligente, pena que não é esforçado, você poderia dar muito mais do que isto"; “isto” leia-se, se referia ao meu boletim com as cores do Baheeeaaa. Bjo pró!
Também me lembro do Otacílio - técnico do time de futebol aqui da ilha, o Tapirandu (que é o nome da nossa fortaleza histórica) - que sempre dizia: "Léo é bom de bola só lhe falta explosão, rs, e usar mais corpo para proteger a bola". Com isso eu amargava o banco de reservas, mas não pensem que isso me irritava, aaah não, eu tava felizão só de estar no time. E assim era em quase tudo, surf, futvolei, natação, dominó, bolinha de gude, etc. 

Vejo que há somente uma área em minha vida onde eu não fui e não sou mais ou menos, é na arte de "se entregar". Engraçado que é exatamente aqui que eu deveria ser mais ponderado, sóbrio, pés na areia. Pois se entregar é muito arriscado, há sempre a possibilidade da decepção, frustração e tristeza, mas não, eu aprendi que a magia de viver depende da arte de se entregar, por isso sempre me entreguei sem reservas aos meus amores, quer seja Àgape, Fileo ou Eros. Os meu amigos de verdade podem testificar sobre isso, pois eles sabem praticamente tudo a meu respeito, desde os “pecados”, as duvidas e inquietações vocacionais. Meus amores?! Aaaah, pra estes eu mostrei meu avesso, sempre fui muito bobo com relação a eles. Era muito comum após uma noite de amor eu trocar a frase: e aí foi bom pra você; pelas confissões pessoais de um coração vagabundo. Sei que é um estilo de vida muito arriscado, eu mesmo já tomei muito na cara por isso, mas por outro lado sou muito feliz sabendo que os que tenho comigo, não os tenho por mascara, eles sabem quem sou, pelo menos na mesma medida que eu já descobri de mim mesmo.
Exatamente pela razão de ser mais ou menos em quase tudo, e isso inclui principalmente a escrita, resisti muito à idéia teimosa de criar esse espaço aqui, na verdade ainda estou cabaleando com a idéia, também, ninguém mandou eu ficar viciado na conversa gabiru de Marcos Felipe, andar fuçando o blog do Messias, me deliciar com as prosas e os versos de Neta e vez por outra me arriscar a ler Marcos Monteiro, rsrsrs ainda tenho o agravante de ter conhecido Angelita Marques, essa figura inoxidável, kkkkkk... Pronto, agora o resultado é esse, me tornei um cidadão cheio de complexo e medroso acerca da arte de exprimir sentimentos, pensamentos e criticas através das letras. Mas estou tentando com todas as forças vencer essa timidez e começar a dedilhar as primeiras percepções inocentes. Por isso peço o apoio e a compreensão de todos, pois esse pequeno passo que estou dando trata-se da tentativa de vencer um trauma sério na minha vida causado indiretamente por essas figuras cativantes que citei acima. rsrsrsrs
Desde já agradeço, 
 Beijos em todos e todas!!!
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